10.1.07

Ate que enfim, criticas construtivas!

Sai a justica social, entra a ditadura da estética

Chegou a hora dessa gente bronzeada, marombada e siliconada mostrar seu valor. Na estreia do "Big Brother Brasil 7"ontem na Globo, a galera do “uhu!”, do “irado” e do “caraca” provou que está pronta para dominar o programa.

O “BBB 7" começou com algumas novidades pontuais. Logo no início o candidato Fernando Orozco foi eliminado por ser amigo de um diretor da Globo (que tentou demonstrar, de forma um tanto tardia, uma idoneidade que vem sendo constantemente questionada). No final, Pedro Bial anunciou que dois candidatos - e nao apenas um - serao eliminados na proxima semana.
Mas so houve uma mudança realmente fundamental no “BBB 7” em relacao as tres ultimas edicoes: nao ha mais sorteio de participantes. Na pratica, isso significa que os candidatos pobres, gordos ou feios foram eliminados a priori, em um processo de eugenia televisiva.

Boninho, diretor do programa, explicou a decisao em entrevistas: o objetivo do “Big Brother” e entreter, nao fazer justica social (e, assim, com uma medida provisoria, o Brasil perde uma de suas modalides de inclusao social a conta-gotas).

Sai a justica social, entra a ditadura estetico-hormonal. Este e o elenco mais homogeneo das sete edicoes do “Big Brother”: todos sao jovens (entre 20 e 30 anos), magros, solteiros, “de boa aparencia”. Eles ja eram maioria nas outras edicoes. Mas havia sempre uma ou outra excecao. Agora ta tudo dominado.

A julgar pela primeira festa, todos sao tambem bastante desinibidos e disponiveis. Estimuladas pela extrovertida Liane, as garotas fizeram uma pequena demonstracao de como se danca o verdadeiro funk carioca. E a loira Flavia – que, ao ser perguntada sobre sua profissao, disse que faz fotos e dança nas baladas – ja reclamou que foi encoxada por um dos mascarados da festa.
Elas bem que poderiam ter ouvido o conselho dado por Grazi Massafera: aproveitem o programa para tirar ferias e fazer um auto-conhecimento de si proprios (nao se pode elogiar a moca, como fiz, que ela fala uma barbaridade dessas). Mas o momento nao está para filosofia barata. A ordem agora e entreter.

Pedro Bial ja disse que o publico rejeita o sexo no “Big Brother”. Entao ai vai uma pergunta: qual e o sentido de convocar 16 jovens solteiros com hormonios em ebulição para o programa?
Mas a questao mais importante e a seguinte: se os candidatos sorteados ganharam duas das tres edicoes em que houve esse dispositivo (e, portanto, tornaram-se participantes queridos pelo publico e ajudaram a levantar a audiencia), por que corta-los da nova edicao?
Tenho uma pequena teoria a respeito. O “Big Brother” costuma ser visto apenas como um fenomeno de audiencia. Mas e também um paraiso do merchandising – o que e tao ou mais importante para a emissora. Pobre pode ate ser bom para desperter a piedade alheia e ganhar o programa. Mas nao e bom o suficiente para vender carros de luxo e boa parte dos produtos anunciados.

A nova edicao do “Big Brother” fez uma opcao por candidatos que saem bem na foto. Mas ha um risco nessa escolha: ao selecionar pessoas com mais semelhancas do que diferenças (e elas tem em comum ao menos o fato de pertencer a elite estetica do pais), o programa corre o risco de esvaziar seus conflitos e perder audiencia. E são sempre os conflitos que movem a dramaturgia – seja das telenovelas ou dos reality shows.

A ideia de que o “Big Brother” e a novela da vida real ou um pequeno microcosmo do pais sempre me pareceu uma balela. Mas ha algo realmente inovador no formato do programa: a ficcao e construida nao apenas pelos roteiristas, diretores e editores, mas tambem pelos atores e pelo publico – o que a torna mais fluida e flexivel que nas obras fechadas.

Em quase todas as edicoes anteriores, a parte mais interessante da ficcao foi a maneira como a maioria lidou com a excecao: o caipira Bam Bam, a ignorante Sol, a despossuida Cida, o homossexual Jean, o obeso Tinho. Ou melhor, a maneira como os candidatos nao souberam lidar com o diferente, como eles escolheram alternativas equivocadas de relacao, como o distanciamento, a humilhacao ou o paternalismo.

Os momentos mais reveladores do programa aconteceram nesse curto-circuito do politicamente correto, nas cenas em que os atores deixaram cair a mcscara de seus personagens. Posso estar enganado (e frequentemente estou), mas acho que esta edicao promete render menos instantes como esses - e, portanto, devera ser menos interessante do que um classico como o "BB 5" (o de Jean e Grazi).

Estamos apenas no início de uma longa jornada "Big Brother” adentro. Em algum momento, os candidatos podem se revelar facinoras ou covardes, pulhas ou psicopatas. Os mais fortes podem se unir para subjugar os fracos, e estes podem bolar uma resposta letal. Mas, a julgar pelo primeiro programa, nao sera muito facil diferenciar um participante do outro. Talvez pela cor dos cabelos ou o tamanho dos bíceps.

Publicado por Ricardo Calil - 9/01/07 11:59 PM

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